A saúde de pessoas pode estar comprometida. A poluição orgânica pode deprimir a saúde das pessoas - Rico Euripidou, da ONG GroundWork
Maputo (Canalmoz) – Uma pesquisa realizada recentemente por uma organização não governamental (ONG) de âmbito ambiental sul-africana, denominada GroundWork, concluiu que o ar que é respirado na zona da Matola, principalmente nas redondezas das empresas Cimentos de Moçambique e a Mozal “está seriamente poluído”.
Os níveis de poluição admitidos pela organização mundial da saúde (OMS) situam-se entre 25 ug/cm2, por vinte quatro horas e 10 ug/cm2 por ano. No entanto, a pesquisa realizada na Matola, monitorada pela ONG GroundWork, durante três semanas, concluiu que o nível de poluição que se regista na Matola está muito acima destes níveis tolerados pela OMS.
Na primeira semana da pesquisa, no período entre a meia-noite e as quatro horas da manhã, de segunda a sexta-feira, constatou-se que a poluição por partículas PM2,2 era de 31,6 ug/cm2. Na segunda semana, no mesmo período, os níveis de poluição subiram vertiginosamente, chegando a atingir mais de 100 ug/cm2. Na terceira semana, os níveis voltaram a baixar para cerca de 30ug/cm2.
Estes dados aparecem numa altura em que as ONG’s ambientalistas nacionais estão a travar um combate cerrado com o Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), para anular a licença concedida à MOZAL, para operar no sistema de Bypass, ou seja, a escape aberto, na produção do alumínio. Trata-se de uma licença que autoriza a MOZAL a fazer limpeza da zona de tratamento de fumos e gazes com escape aberto, sem filtro, o chamado Bypass.
Entretanto, de acordo com o epidemiologista ambiental e pesquisador na área de saúde, da ONG GroundWork, Rico Euripidou, envolvido na pesquisa feita na Matola, mesmo muito antes do Bypass da MOZAL, a qualidade do ar que se respira na Matola estava e está muito má.
Rico disse que na pesquisa realizada no centro da cidade da Matola, e nas redondezas da Mozal, não foi possível determinar se de facto a poluição na Matola deriva apenas da MOZAL ou também da “Cimentos de Moçambique”. Verdade, porém, é que se notou a forte presença de alumínios nos poluentes.
“O estudo que foi feito em campo mostrou uma componente química grande, o que leva a concluir que é uma poluição feita por empresas e não por pessoas singulares”, disse Rico Euripidou.
Questão MOZAL
A empresa MOZAL faz parte da Companhia BHP Billiton, que opera na África de do Sul. Esta companhia já realizou um Bypass, por 72 horas na vizinha África de Sul. No entanto, na operação feita na África do Sul toda informação relativa a todas operações e licença para o funcionamento da empresa sempre esteve disponível ao público.
Porém, caso oposto sucede em Moçambique. A empresa MOZAL não está a colocar à disposição das populações e das pessoas interessadas o que de facto pretende fazer e quais as consequência que podem advir e implicações nas comunidades.
Portanto, Rico Euripidou diz não entender o porquê de a mesma companhia ter tratamentos diferenciados, embora o trabalho que será realizado pela MOZAL seja o mesmo com o já efectuado na África do Sul. Para o seu entendimento, o caso da MOZAL pode estar associado a alguns objectivos obscuros.
O pesquisador disse que se deve perceber que quando se trata de questão relativas à poluição do ar é preciso saber até que ponto a mesma irá afectar a vida de pessoas, mesmo com a existência de licença para que a sua monitoria seja efectiva.
“As indústrias ligadas a poluição devem ser controladas de forma que sejam reguladas as emissões para que tenham um controlo ambiental mais efectivo. Para além disso quando há controlo do ambiente não haverá formas para que possa tomar outras medidas. A monitoria é muito importante para que se tenha certeza”, disse.
Rico Euripidou falava durante um encontro entre jornalistas e ONG’s ambientalistas que tinha em vista programar interacção para reportagens sobre a poluição industrial.
Os segredos em volta da MOZAL
Para a jornalista ambiental do jornal Beeld da África do Sul, Elise Tempelhoff, a atitude tomada pela BHP Billiton com a relação a MOZAL é absurda porque no seu entender em primeiro lugar estão-se a por as questões económicas e não a saúde das pessoas. Disse que, como jornalista ambiental, quando vê que há segredo (como na MOZAL) fica preocupada.
A jornalista disse também que neste momento na África de Sul a grande guerra que se trava está relacionada com a contaminação das águas de rios pelas empresas mineiras. Esses rios desaguam em Moçambique ou despejam as águas poluídas em rios que correm em território moçambicano.
“Conseguimos biliões de rand, mas isso, no futuro, para se ter água, vai nos custar outros biliões de dinheiro”, disse.
Referiu que tendo em conta que em Moçambique existe uma lei constitucional que visa a defesa do meio ambiente há necessidade de lutar para o povo não ter de sofrer as consequências do facto de só se estar a atender aos lucros sem se atender à saúde das pessoas. Para tal, os jornalistas podem desempenhar um papel muito mais interventivo, defendeu a oradora sul-africana.
“Os jornalistas ambientais não exercem apenas o papel de escrever sobre histórias de sucesso, sobre países e árvores. Devem procurar aspectos que realmente melhoram a vida dos cidadãos”, afirmou.
(Egídio Plácido)
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